Análise dos Riscos e Propostas para a Segurança em Empresas de Confecção
Concluímos a série de artigos apresentando uma síntese das análises realizadas, destacando os pontos críticos observados e propondo melhorias para fortalecer a segurança e a saúde dos trabalhadores no setor de confecção.
SETOR DE CONFECÇÃO
Com base nos resultados obtidos durante a realização da pesquisa, é possível afirmar que o objetivo proposto neste estudo foi plenamente alcançado. A análise realizada na empresa de confecção permitiu identificar os principais pontos críticos relacionados à segurança e à saúde ocupacional, além de apresentar sugestões de medidas preventivas a serem implementadas para mitigar os riscos existentes e promover um ambiente de trabalho mais seguro para todos os colaboradores.
De início, é relevante contextualizar que o setor têxtil é um dos segmentos que mais cresce no Brasil, impulsionado tanto pelo mercado interno quanto pelas exportações. Contudo, apesar de seu papel significativo na economia, esse setor é historicamente associado a condições de trabalho precárias, que muitas vezes beiram situações de trabalho análogo à escravidão, além de ambientes insalubres. Essa realidade ressalta a importância de se avaliar continuamente as condições de trabalho nesse ramo e implementar ações corretivas para proteger os trabalhadores.
Segundo a Constituição Federal de 1988, todo trabalhador tem direito a exercer suas funções em um ambiente seguro e saudável. Além disso, normas regulamentadoras (NRs), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e legislações específicas estabelecem parâmetros obrigatórios para a proteção da integridade física e mental do trabalhador. Diante disso, é papel das empresas zelar pelo cumprimento dessas normas e criar condições favoráveis para o bem-estar de seus funcionários.
No caso da empresa estudada, observou-se que o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é incentivado em determinados setores, especialmente no corte e na limpeza. Há também a adoção de pausas programadas durante a jornada de trabalho, permitindo períodos de descanso que visam reduzir a fadiga laboral. Essas práticas indicam uma preocupação, ainda que parcial, com a segurança e o conforto dos trabalhadores.
Outro ponto positivo constatado foi a ausência de registros de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho até o momento da pesquisa. Esse dado é relevante, pois reflete que, de maneira geral, os trabalhadores ainda não foram expostos a situações que comprometessem sua saúde de forma severa. Entretanto, a análise também revelou que existem diversas não conformidades que precisam ser urgentemente corrigidas, especialmente no que se refere ao gerenciamento de situações emergenciais.
Durante o levantamento realizado na empresa, foi diagnosticada a ausência de um plano formal de abandono da edificação em caso de emergência. Da mesma forma, não foi encontrada evidência da existência de uma brigada de incêndio treinada e organizada. Esses fatores são considerados críticos, pois, diante de uma ocorrência de incêndio ou qualquer outro tipo de sinistro, a falta de procedimentos claros e equipes treinadas pode colocar em risco a vida dos trabalhadores.
Dessa forma, uma das principais recomendações é que a empresa desenvolva, com a maior brevidade possível, um plano de contingência para situações de emergência. Este plano deve incluir orientações detalhadas sobre as rotas de fuga, pontos de encontro seguros, procedimentos de evacuação e o papel de cada colaborador em situações críticas. Para a efetividade do plano, é imprescindível a realização de treinamentos periódicos, simulados de evacuação e capacitações específicas sobre combate a princípios de incêndio.
Outro aspecto importante identificado durante a análise é a necessidade de uma melhor organização no ambiente de trabalho, especialmente nas áreas de corte, costura e acabamento. A configuração atual da planta industrial, que se caracteriza por ser um espaço aberto, favorece a propagação do fogo em caso de incêndio, devido à ausência de barreiras físicas que possam conter as chamas. Assim, recomenda-se uma revisão no layout da empresa, priorizando a criação de setores distintos e a separação física entre áreas de produção e armazenamento.
Em uma condição ideal, os empregadores devem adotar medidas que garantam a separação clara entre os ambientes de trabalho e os locais de armazenamento de materiais altamente combustíveis, como tecidos e roupas já finalizadas. Esses produtos, devido à sua natureza inflamável, devem ser mantidos em áreas específicas, preferencialmente dotadas de sistemas de prevenção e controle de incêndio, como sprinklers e portas corta-fogo.
Outro fator que merece atenção é o acesso ao imóvel. Em caso de emergência, é crucial que as rotas de saída estejam desobstruídas e sejam facilmente acessíveis. Na empresa analisada, constatou-se que o galpão principal não possui livre acesso ao exterior, pois a saída é bloqueada por um portão automático. Dependência de sistemas automáticos para evacuação pode representar um risco adicional, sobretudo em situações em que a energia elétrica seja interrompida. Assim, recomenda-se a instalação de dispositivos de abertura manual de emergência, bem como a desobstrução das áreas de acesso.
A pesquisa também revelou que, atualmente, nenhum dos funcionários da empresa sente-se apto para agir adequadamente diante de uma emergência. Essa constatação é preocupante e reforça a necessidade de investimentos em treinamento e capacitação contínuos. Os trabalhadores devem ser orientados sobre o uso correto dos equipamentos de combate a incêndio, como extintores e mangueiras, bem como sobre a conduta adequada em casos de evacuação.
Além dos treinamentos práticos, é importante que a empresa promova palestras educativas, distribuindo informações claras e acessíveis sobre os riscos presentes no ambiente de trabalho, o uso correto dos EPIs e a importância da prevenção. A conscientização é uma ferramenta poderosa para reduzir o número de acidentes e para garantir que todos os trabalhadores saibam como proteger a si mesmos e aos colegas em situações críticas.
Em resumo, a pesquisa realizada permitiu a identificação de diversos pontos positivos, mas também revelou aspectos críticos que precisam ser melhorados para garantir a plena segurança e saúde dos trabalhadores da empresa estudada. Apesar de já existirem algumas iniciativas em andamento, como o incentivo ao uso de EPIs e as pausas para descanso, ainda há um longo caminho a ser percorrido no que diz respeito à organização dos espaços, ao treinamento de pessoal e à implantação de procedimentos formais de emergência.
Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que os objetivos da pesquisa foram efetivamente alcançados. A análise proporcionou uma visão abrangente sobre a situação atual da empresa no que se refere à segurança e saúde ocupacional, e, principalmente, permitiu a formulação de recomendações práticas e aplicáveis para a melhoria contínua do ambiente de trabalho.
Por fim, reforça-se que a segurança dos trabalhadores não deve ser vista apenas como uma exigência legal, mas como um compromisso ético e moral das empresas. Um ambiente de trabalho seguro e saudável não apenas preserva vidas, mas também contribui para a melhoria da produtividade, da qualidade dos produtos e da reputação da organização no mercado. Assim, recomenda-se que a empresa encare os pontos levantados neste estudo como oportunidades de crescimento e fortalecimento de sua responsabilidade social corporativa.