Como Identificar e Prevenir Eventos Indesejados no Trabalho para Garantir a Segurança

Entenda por que reconhecer os pequenos incidentes no ambiente profissional pode evitar grandes acidentes. Saiba o que a legislação brasileira diz sobre acidentes de trabalho, como medir os riscos e construir uma cultura de prevenção eficaz na sua empresa.

SEGURANÇA DO TRABALHO

5/21/20255 min read

a person holding a crutch and walking cane
a person holding a crutch and walking cane

No ambiente profissional, a segurança dos trabalhadores é um tema que deve estar sempre em destaque. Muitas vezes, quando pensamos em segurança, a imagem que vem à mente são os acidentes graves que resultam em afastamentos ou mesmo danos irreversíveis. No entanto, existe um universo maior e fundamental para prevenir esses acidentes: os chamados eventos indesejados.

Mas afinal, o que são esses eventos? De maneira simples, eles abrangem qualquer ocorrência inesperada que pode ou não causar danos materiais, ambientais ou pessoais. Eles incluem desde pequenos incidentes, que não chegam a causar lesões, até acidentes propriamente ditos, que envolvem algum tipo de dano ao trabalhador. Esse conceito mais amplo é importante para que se possa atuar com prevenção de forma eficaz.

Por que é importante falar sobre eventos indesejados?

Se olharmos apenas para os acidentes que causam afastamento ou danos graves, estaremos vendo apenas a ponta do iceberg. Por trás desses acidentes, quase sempre existem sinais e eventos que poderiam ter sido identificados e corrigidos antes que a situação piorasse. Por isso, dar atenção aos eventos indesejados, mesmo que aparentemente “menores”, é fundamental para evitar que um problema pequeno se transforme em um grande acidente.

Além disso, o entendimento correto sobre o que caracteriza um acidente de trabalho é crucial para quem atua na área de segurança do trabalho e para as próprias empresas. A legislação brasileira traz definições claras que ajudam a classificar esses eventos, o que impacta desde o registro oficial até as ações preventivas que devem ser adotadas.

O que diz a legislação sobre acidente de trabalho?

No Brasil, a Lei nº 8.213, de 1991, é o principal documento legal que regula a questão dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Ela define acidente de trabalho não só como o evento que causa lesão ou morte, mas também inclui doenças profissionais e do trabalho. Essas doenças são aquelas desencadeadas ou agravadas em função do exercício da atividade laboral, como problemas respiratórios causados por exposição a poeiras ou agentes químicos.

Além disso, a legislação estende o conceito de acidente de trabalho para situações que podem parecer fora do horário ou local tradicional, como acidentes ocorridos no trajeto entre a casa e o trabalho, ou mesmo durante uma atividade autorizada pela empresa, como uma viagem a serviço.

Outro ponto importante da lei é a consideração de eventos como agressões ou atos de terceiros, que podem resultar em acidentes para o trabalhador, e também acidentes causados por fenômenos naturais inesperados, como desabamentos ou incêndios.

Acidentes como indicadores de disfunção no sistema

Do ponto de vista técnico, muitos especialistas veem os acidentes como manifestações de falhas no sistema de trabalho. Isso significa que um acidente não ocorre por acaso, mas sim porque algum componente do sistema – seja a tarefa executada, o ambiente, o material utilizado ou o comportamento dos trabalhadores – apresenta uma disfunção.

Dessa forma, é possível entender que o acidente é um sintoma, uma consequência visível de um problema que já existia, mas que não foi detectado ou corrigido a tempo. Por isso, a gestão eficaz da segurança passa pela análise detalhada dos eventos indesejados e pela identificação das causas que levaram ao incidente.

A importância de registrar e analisar incidentes e quase acidentes

Eventos indesejados incluem os chamados “quase acidentes” – situações em que um acidente poderia ter ocorrido, mas que por alguma razão foi evitado. Embora esses episódios não causem dano, eles carregam informações valiosas para a prevenção.

Registros constantes desses eventos permitem que as empresas mapeiem os riscos, encontrem pontos vulneráveis e implementem mudanças que evitam a repetição e a evolução desses problemas.

É como se os incidentes fossem avisos: se ignorados, eles podem levar a consequências muito mais sérias. Por isso, criar uma cultura onde o registro e a análise dos eventos indesejados sejam valorizados ajuda a construir ambientes mais seguros.

Como medir o desempenho em segurança?

No campo da segurança do trabalho, existem indicadores que ajudam a mensurar o desempenho das empresas na prevenção de acidentes. Dois dos principais indicadores usados são a taxa de frequência e a taxa de gravidade.

A taxa de frequência está relacionada à quantidade de acidentes em função do total de horas trabalhadas. Ela indica a frequência com que os acidentes acontecem em determinado período e serve para avaliar se as ações de prevenção estão sendo eficazes.

Já a taxa de gravidade é usada para medir o impacto dos acidentes, considerando o número de dias perdidos por afastamento e outros fatores relacionados à severidade das lesões.

Apesar da existência desses indicadores, é importante destacar que eles podem variar de acordo com o país, setor e até mesmo entre empresas do mesmo grupo. No Brasil, por exemplo, a base para o cálculo normalmente considera um milhão de horas-homem trabalhadas, enquanto em países europeus ou nos Estados Unidos, o padrão adotado costuma ser 200 mil horas-homem. Isso pode dificultar a comparação direta entre índices.

Além disso, algumas organizações optam por incluir ou excluir certos tipos de eventos, como acidentes leves que só exigiram primeiros socorros, acidentes de trajeto, ou incidentes ocorridos fora do ambiente de trabalho, o que influencia diretamente nos resultados apresentados.

O desafio da comparação de indicadores

Por causa dessas variações, é fundamental que gestores e profissionais da área conheçam a origem dos dados, os critérios adotados e a base de cálculo dos indicadores de segurança antes de fazer comparações. Uma taxa de frequência aparentemente baixa pode estar mascarando um problema, se, por exemplo, a empresa não registra todos os tipos de eventos.

Empresas multinacionais precisam lidar com essa questão de forma ainda mais cuidadosa, já que seus indicadores devem ser consolidados e comparados entre diferentes países com critérios nem sempre alinhados.

Por que isso impacta diretamente as empresas?

Um ambiente de trabalho seguro não é apenas uma obrigação legal ou um dever ético. Ele tem impacto direto na produtividade, nos custos operacionais e na imagem da empresa perante clientes, investidores e colaboradores.

Acidentes e eventos indesejados podem gerar prejuízos financeiros expressivos, como gastos com afastamentos, indenizações, multas e processos judiciais. Além disso, ambientes inseguros tendem a afetar a motivação dos funcionários, elevando o índice de absenteísmo e reduzindo a qualidade do trabalho.

Por outro lado, organizações que investem em prevenção, registram e analisam cuidadosamente todos os eventos, criam uma cultura de segurança e promovem treinamentos constantes conseguem reduzir significativamente esses riscos.

Construindo uma cultura preventiva

Mais do que cumprir a legislação, é preciso fomentar uma cultura onde todos os envolvidos se sintam responsáveis pela segurança. Isso inclui desde os líderes até os trabalhadores da linha de frente.

Treinamentos, comunicação clara, uso correto dos equipamentos de proteção e sistemas eficientes de reporte são parte fundamental desse processo.

Quando a prevenção é parte do dia a dia, e não apenas uma obrigação formal, os eventos indesejados deixam de ser tratados como problemas isolados e passam a ser oportunidades de melhoria contínua.