O Papel Essencial do Engenheiro de Segurança do Trabalho: Desafios, Responsabilidades e Impactos Sociais

Em um mundo cada vez mais exigente em relação à segurança, à transparência e à responsabilidade social, o engenheiro de segurança do trabalho se firma como um profissional indispensável para a proteção da vida, o bem-estar dos trabalhadores e a sustentabilidade das organizações.

SEGURANÇA DO TRABALHO

5/5/20254 min read

woman wearing red hard hat and orange reflectorized jacket
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O ambiente profissional contemporâneo é marcado por grandes transformações sociais, políticas e econômicas. Nesse cenário, destaca-se o papel do engenheiro de segurança do trabalho, um profissional cuja atuação se tornou cada vez mais relevante à medida que as empresas são chamadas a adotar posturas mais éticas, transparentes e comprometidas com a saúde e o bem-estar de seus colaboradores.

Historicamente, a relação entre capital e trabalho esteve centrada em metas de produtividade e eficiência, muitas vezes negligenciando condições seguras e humanas de trabalho. No entanto, desde a década de 1970, houve um crescimento expressivo das demandas sociais por ambientes laborais mais saudáveis, justos e participativos. Trabalhadores passaram a ocupar um papel mais ativo, questionando procedimentos empresariais e exigindo condições dignas de trabalho. Essa pressão social gerou importantes avanços legais, como o direito à informação sobre riscos, o acesso a resultados de exames médicos e ambientais, e o direito à recusa de atividades em condições de risco iminente.

Nesse contexto, o engenheiro de segurança do trabalho emerge como agente fundamental de mudança. Seu papel é encontrar, dentro de parâmetros técnicos, científicos e éticos, formas de eliminar ou mitigar os riscos ocupacionais. Isso inclui a identificação de perigos, a proposição de soluções viáveis e a avaliação constante das condições de trabalho.

É importante destacar que o engenheiro de segurança do trabalho atua de maneira integrada com outros profissionais. Sua atividade não se sobrepõe, mas complementa a dos técnicos, médicos, enfermeiros e outros especialistas da área de Saúde e Segurança no Trabalho (SST). Enquanto a linha de produção deve implementar e manter boas práticas operacionais, cabe ao engenheiro de segurança oferecer suporte técnico, diagnóstico preciso e recomendações adequadas. Ou seja, ele funciona como uma consultoria interna especializada, munida de um "olho clínico" capaz de antever riscos antes que se tornem acidentes.

Segundo Asfahl (2005), a SST tem caráter de linha e de suporte. A implementação de ações concretas de segurança no local de trabalho é responsabilidade direta da linha operacional. No entanto, o conhecimento especializado pertence à equipe de SST, que, por sua vez, orienta e apoia tecnicamente as demais áreas. Portanto, a segurança é dever de todos, mas o engenheiro de segurança é o guardião do saber técnico que guia essas práticas.

Outro aspecto relevante é o papel econômico da SST. É comum que os profissionais da área se frustrem ao perceber que as decisões empresariais giram em torno de custos. No entanto, esse é um dado da realidade que precisa ser compreendido. O engenheiro de segurança do trabalho deve desenvolver a habilidade de traduzir seus projetos em linguagem econômica. Demonstrar, por exemplo, que o investimento em medidas de engenharia para controle de ruído é mais eficaz e barato a longo prazo do que a distribuição constante de protetores auditivos.

Conforme Caporali (2009), é essencial que esses profissionais saibam quantificar os custos ocultos das doenças ocupacionais e dos acidentes de trabalho. Esses custos, muitas vezes, não aparecem nos relatórios contábeis tradicionais, mas impactam fortemente a produtividade, o clima organizacional e a imagem da empresa. Trata-se de entender que prevenção também é estratégia financeira.

Ademais, o engenheiro de segurança do trabalho é também um educador. Ele é responsável por propor e apoiar programas de treinamentos formais e informais. Os treinamentos são essenciais para transformar a cultura organizacional e combater os "atos inseguros" que ainda são causa frequente de acidentes. Tais comportamentos estão arraigados nas rotinas e, muitas vezes, enraizados desde a infância pela valorização do risco e da imprudência.

Como ressalta Cosmo Palásio de Moraes Júnior, “O fato é que hoje cuidamos das formigas enquanto os elefantes andam soltos pelas organizações, adoecendo, mutilando e matando. Se o tempo dedicado às pequenas coisas fosse dedicado ao cuidado das grandes, as ações implementadas seriam mais eficazes”. Ou seja, há uma tendência à burocratização das pequenas não-conformidades, enquanto os grandes problemas estruturais continuam sem solução. Uma atuação efetiva passa pela concentração de esforços nas principais ameaças à vida e à saúde.

Não se pode ignorar, também, o papel dos supervisores de linha como principais instrutores no dia a dia. O engenheiro de segurança deve formar esses líderes, capacitando-os para que sejam multiplicadores de boas práticas. A educação informal, realizada no local de trabalho, é muitas vezes mais eficaz do que treinamentos em sala de aula.

Por outro lado, treinamentos formais também têm seu lugar. Eles devem abordar temas como normas técnicas, reconhecimento de riscos, gestão de emergências, uso correto de EPIs e desenvolvimento de uma cultura prevencionista. O engenheiro pode tanto ministrar diretamente esses cursos quanto apoiar sua realização.

A evolução da profissão exige que esse profissional esteja sempre atualizado. Novas tecnologias, legislações, métodos de análise e indicadores de desempenho são constantemente incorporados à rotina do setor. A visão do engenheiro de segurança deve ser sistêmica, considerando não apenas os aspectos técnicos, mas também os organizacionais e comportamentais.

Com isso, é possível afirmar que a profissão de engenheiro de segurança do trabalho vai muito além da prevenção de acidentes. Trata-se de um agente de transformação, com um olhar crítico, multidisciplinar e humano. Sua atuação exige coragem para desafiar a inércia, sensibilidade para lidar com as dores alheias e competência para dialogar com todos os níveis da organização.

Vivemos em um tempo em que a responsabilidade social deixou de ser opcional. A sociedade exige das empresas posturas transparentes, éticas e comprometidas com a vida. O engenheiro de segurança do trabalho, quando bem preparado e valorizado, é um dos pilares dessa nova cultura organizacional.

Por fim, o verdadeiro impacto do seu trabalho não se mede apenas em números, mas na ausência deles: menos acidentes, menos afastamentos, menos sequelas. Seu maior sucesso é quando nada acontece - e isso, paradoxalmente, é o que torna sua atuação tão essencial.

Aqui no Conectar e Construir, queremos justamente isso: ampliar o entendimento sobre o valor das profissões que, nos bastidores, mantêm empresas de pé, vidas protegidas e sonhos intactos. O engenheiro de segurança do trabalho é uma dessas peças-chave. Que ele seja ouvido, respeitado e cada vez mais reconhecido.