"Hearts and Minds": A Jornada da Shell para uma Cultura de Segurança que Transforma Vidas

Conheça o renomado programa "Hearts and Minds" da Shell, um modelo que vai muito além das regras e busca envolver cada pessoa na construção de um ambiente de trabalho seguro. Descubra os 5 estágios dessa jornada e como a Shell inspira a mudança de comportamento para alcançar a excelência em Segurança, Saúde e Meio Ambiente.

SEGURANÇA DO TRABALHO

6/9/20259 min read

white and blue wooden signage
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A segurança no ambiente de trabalho é um pilar fundamental para qualquer organização que almeje não apenas a conformidade, mas a excelência em suas operações. No vasto e complexo universo da segurança, saúde e meio ambiente (SSMA), o conceito de "cultura de segurança" emerge como um diferencial crucial, capaz de transformar resultados e preservar vidas. É nesse cenário que o programa "Hearts and Minds" (Corações e Mentes) da Shell Exploração & Produção se destaca, representando um modelo de jornada robusto e profundamente enraizado em décadas de pesquisa e aplicação global.

Desenvolvido em 2002, mas com suas raízes em pesquisas conjuntas com as universidades de Leiden, Manchester e Aberdeen desde 1986, o "Hearts and Minds" nasceu de uma constatação vital: enquanto um sistema de gerenciamento de SSMA forma a base essencial para um bom desempenho, é somente através de uma cultura sólida que se alcança um desempenho extraordinário. Este programa, ao longo dos anos, consolidou-se como um conjunto abrangente de ferramentas e técnicas destinadas a envolver todos os níveis hierárquicos de uma organização no gerenciamento de SSMA, integrando-o intrinsecamente aos negócios.

A essência do "Hearts and Minds" reside na sua capacidade de promover mudanças comportamentais nas pessoas, capacitando-as a trabalhar de forma segura e a sentir-se confortáveis para intervir ou interromper colegas diante de comportamentos inseguros. É um modelo que vai além da mera imposição de regras, buscando uma internalização dos valores de segurança, transformando a forma como as pessoas percebem e interagem com os riscos em seu dia a dia.

A jornada da maturidade em SSMA, conforme preconizado pelo modelo Shell, é um processo contínuo e gradual, que se assemelha à escalada de uma montanha. O objetivo final é o estágio "generativo", o patamar mais elevado, onde a segurança se torna um valor inegociável, uma parte intrínseca da identidade da organização. No entanto, atingir este estágio não é um salto instantâneo, mas sim um avanço passo a passo, cada um representando um degrau na escada da maturidade.

Decifrando os Estágios da Maturidade em SSMA

A Shell delineia cinco estágios distintos nessa jornada de maturidade, cada um refletindo um nível diferente de consciência e engajamento com a segurança:

1. Patológico: No estágio inicial, o "patológico", a preocupação com a segurança é reativa e oportunista. As pessoas agem de forma segura apenas quando há uma supervisão direta ou quando temem ser "pegas" em uma infração. O exemplo clássico é o funcionário que só utiliza o Equipamento de Proteção Individual (EPI) na presença do chefe, retirando-o assim que a fiscalização se ausenta. Este estágio reflete uma cultura de conformidade forçada, sem o verdadeiro convencimento da importância da segurança.

2. Reativo: O segundo estágio, o "reativo", é marcado pela preocupação com a segurança somente após a ocorrência de um acidente. A organização age, como o nome sugere, de forma puramente reativa, esperando um evento indesejado para então mobilizar-se. A busca por um culpado é uma característica comum neste patamar, desviando o foco da prevenção e da análise sistêmica das causas.

3. Calculista: Um grande avanço é observado no terceiro estágio, o "calculista". Aqui, a organização passa a se preocupar ativamente em gerenciar as condições perigosas, atuando na origem dos problemas em vez de apenas reagir a eles. A implantação e o uso de sistemas de gestão de segurança tornam-se comuns, servindo como alicerces para um gerenciamento mais efetivo. Há um reconhecimento da necessidade de identificar e mitigar riscos antes que se materializem em acidentes.

4. Proativo: O penúltimo estágio, o "proativo", demonstra uma atuação intensa na antecipação dos problemas. Tudo é meticulosamente planejado, e a empresa adota uma visão de médio e longo prazo, integrando os aspectos de SSMA em todas as suas estratégias. A segurança não é mais uma afterthought, mas sim um elemento considerado desde a concepção de projetos e processos.

5. Generativo: Finalmente, o estágio "generativo" representa o ápice da maturidade. Neste patamar, a segurança é expressa como um valor intrínseco, uma condição para a realização de qualquer tarefa. "Ou se faz tudo com segurança, ou simplesmente não se faz" – essa é a máxima que rege este estágio. Qualquer ação que não seja segura é considerada inaceitável. A segurança é internalizada por todos, desde a alta liderança até os colaboradores de linha de frente, tornando-se parte da cultura organizacional.

A Shell, com base em sua vasta experiência, enfatiza que o programa "Hearts and Minds" atua como um guia nessa jornada de progressão, oferecendo processos e ferramentas que facilitam a mudança de comportamento e constroem uma cultura de gestão sólida. Uma das grandes vantagens de subir a escada da maturidade, especialmente a partir do estágio "proativo", é a regressão da carga de trabalho. Isso ocorre porque a confiança nas práticas de segurança aumenta, a comunicação se torna mais eficaz e o trabalho é realizado corretamente na primeira vez, com menos supervisão e retrabalho.

Os Três Pilares Essenciais para o Avanço da Maturidade

Para que uma organização consiga avançar em direção aos graus mais elevados de maturidade em SSMA, a Shell identifica três elementos cruciais que devem ser focados e desenvolvidos:

1. Responsabilidade Pessoal (Personal Responsibility): Este elemento diz respeito à clareza e aceitação individual das responsabilidades em SSMA. É fundamental que cada indivíduo compreenda o que se espera dele, qual sua contribuição específica no processo e quais são suas atribuições. Para isso, a Shell promove discussões regulares sobre responsabilidades, garantindo que as incumbências sejam claras e que as pessoas se sintam competentes para executá-las. A transparência é a chave, com prioridades alinhadas à descrição de cargo e tarefa. Quando cada um sabe exatamente o que esperar de si e dos outros, a ambiguidade é removida e a ação se torna mais fluida.

2. Consequências Individuais (Individual Consequences): Entender e aceitar a existência de um sistema de recompensas e disciplina é vital. Deve haver uma relação direta, clara e formal entre ações e suas consequências. Este sistema serve para reforçar e recompensar os comportamentos desejados em SSMA, ao mesmo tempo em que desencoraja os não desejados. Os "atos inseguros", independentemente do nível hierárquico, devem ser abordados de forma justa e transparente, com ações corretivas imediatas. A previsibilidade das consequências é um motor poderoso para a mudança de comportamento.

3. Intervenções Proativas (Personal Proactive Interventions): Este é, sem dúvida, o elemento mais desafiador de implementar. Ele busca motivar as pessoas a agir de forma segura naturalmente, não apenas por imposição. Envolve o desejo de fazer intervenções e participar ativamente em atividades com foco em melhoria contínua. Requer a capacidade de influenciar o comportamento dos outros de forma positiva e, igualmente importante, a aceitação das intervenções feitas por colegas. É a transição de uma segurança reativa para uma cultura onde a proatividade e a intervenção mútua são a norma.

A Shell, com sua vasta experiência, aconselha que, antes de iniciar a implantação de um programa dessa magnitude, as empresas se questionem: "Por que se aborrecer?". A resposta é simples: o sucesso do programa "Hearts and Minds" está diretamente ligado à motivação pessoal dos líderes em fazer a diferença no desempenho de SSMA. Somente quando a liderança sênior percebe as vantagens e se compromete com o esforço e envolvimento necessários, os resultados satisfatórios se tornam alcançáveis. A partir da autoavaliação, um plano de ação é traçado para evoluir um estágio por vez, reforçando a ideia de que a maturidade é um processo gradual.

O Modelo de Comportamento Seguro da Shell: Olhar, Falar e Escutar

Para instrumentalizar as pessoas na identificação e no tratamento de condições perigosas no dia a dia, a Shell desenvolveu uma metodologia específica, encapsulada no seu "Modelo de Comportamento Seguro". Reconhecendo que práticas de trabalho inseguras são uma das maiores causas de acidentes e que nem todas as condições perigosas podem ser eliminadas, a empresa foca na criação de um ambiente onde o comportamento seguro se torna um hábito e a cultura de intervenção é compreendida e aceita por todos.

Este modelo é composto por quatro estágios interligados, todos eles suportados pela base do "olhe, fale e escute":

1. Perceber: O primeiro estágio é sobre a capacidade de captar informações do ambiente através dos sentidos. Isso inclui:

  • Ver: Observar, por exemplo, um trabalhador sem EPI ou um motorista sem cinto de segurança.

  • Cheirar: Identificar odores incomuns, como gases tóxicos ou irritantes.

  • Sentir: Perceber vibrações, superfícies quentes ou frias.

  • Ouvir: Distinguir ruídos incomuns de equipamentos ou a aproximação de veículos. Este estágio pode ser bloqueado por fatores como inexperiência, cansaço, estresse ou a presença de gases inodoros, o que ressalta a importância do treinamento e da conscientização.

2. Conhecer: Uma vez percebida uma situação, o estágio de "Conhecer" busca a compreensão profunda do risco. Perguntas cruciais surgem:

  • Você entende as condições perigosas? Quais são elas, de onde se originam, quando surgiram?

  • Como essas condições afetam você e os outros? Qual a gravidade? Podem ser fatais? Que consequências podem provocar? É possível evitar que provoquem algo indesejado?

  • Você se sente ameaçado por elas? Lembra-se do potencial dessas condições? Está protegido por seus EPIs, por exemplo? A profundidade do conhecimento sobre o risco é fundamental para a tomada de decisão.

3. Planejar: Com a percepção e o conhecimento consolidados, o próximo passo é "Planejar" a ação. Reflexões importantes incluem:

  • Você pode evitar a situação perigosa? Existe uma alternativa mais segura para realizar a tarefa?

  • Você pode se proteger e proteger os outros? Existem EPIs apropriados? Há legislações ou procedimentos específicos de proteção?

  • Você pode lidar com isso sozinho? Tem certeza de que não está em perigo? Se não, como pode mitigar o risco? Qual a ação mais efetiva? O planejamento envolve a análise das opções e a escolha da melhor estratégia para mitigar ou eliminar o risco.

4. Executar: O estágio final, "Executar", envolve a ação escolhida e ponderada no planejamento. É a materialização do comportamento seguro, onde a decisão tomada é colocada em prática.

A base que sustenta esses quatro estágios – "olhe, fale e escute" – é um convite à proatividade e ao engajamento. Não se deve ter medo de falar. Ao perceber algo errado, a reação deve ser de intervenção, envolvimento e comunicação. A complacência é um inimigo da segurança. Além disso, é essencial discutir os problemas e buscar soluções em equipe, reforçando a importância da comunicação e da colaboração para a resolução de desafios.

As estatísticas da Shell trazem uma constatação alarmante e um alerta poderoso para as organizações: 67% das causas dos acidentes estão associadas ao estágio de "perceber" e 20% ao estágio de "conhecer". Isso significa que impressionantes 87% das ocorrências de acidentes estão vinculadas aos dois primeiros estágios do modelo de comportamento seguro. Contraditoriamente, muitos programas convencionais de segurança focam apenas nos estágios de planejamento e execução, que juntos representam apenas 13% das causas dos acidentes.

Essa disparidade é um chamado à reflexão. As organizações precisam questionar para onde estão direcionando seus recursos e esforços. Se a maior parte dos acidentes tem origem na falta de percepção ou conhecimento dos riscos, concentrar-se apenas na etapa de planejamento e execução é como tratar o sintoma sem atacar a doença. É por isso que muitos problemas de segurança persistem, pois as verdadeiras causas não são compreendidas nem abordadas.

Em suma, a Shell resume a arte de um bom gerenciamento de segurança com uma frase perspicaz: "A arte de um bom gerenciamento é ter as pessoas querendo fazer o que a empresa já decidiu que elas devem fazer". Isso significa que a responsabilidade final recai sobre supervisores, líderes e gestores em geral. Seu papel é não apenas ditar regras, mas inspirar e capacitar seus colaboradores a quererem agir de forma segura, a internalizar os valores de SSMA e a participar ativamente na construção de um ambiente de trabalho mais seguro para todos. O "Hearts and Minds" não é apenas um programa; é uma filosofia que busca transformar a segurança de uma obrigação em um valor compartilhado, um pilar fundamental para o sucesso e a sustentabilidade de qualquer negócio.